Foto: Leonil Junior |
Chora meu rio, chora. Chora minha alma, chora. Chora que eu já vou embora. Só vim aqui me despedir de mim. Canoeiro foi embora, vaporzeiro aposentou. Nestas lindas águas finas, o que resta é meu amor. Quem dera se todo mundo chorasse na beira d’água pra render mais um cadinho. E Oxum lá se banhasse e adocicasse cada lágrima pra caboclo banhar.
Priscila Magella tem uma
relação de alma com o rio São Francisco. Nascida em Pirapora, ao norte de Minas
Gerais, passou a maior parte da vida na companhia das águas que nascem na Serra
da Canastra e passam por cinco estados brasileiros, desaguando no Oceano
Atlântico, entre Sergipe e Alagoas. Na música Lamento ao Velho Chico, ela escracha um sentimento que inunda o
coração. “Eu me sinto a voz do rio, sua representante”, diz. A cantora e
compositora participou ativamente da luta contra a transposição do rio, em
2008, em Cabrobó, Pernambuco. E sente doído o Velho Chico indo embora aos
poucos, por conta dos problemas ambientais que sofre, como desmatamento e
poluição. “Vemos o mar invadindo o Chico, mas não há dor, ele quer ir embora. A
gente comia, bebia, vivia nosso amor com o rio e para ele, conversávamos. É
preciso entender esse sentimento, saber que antes era isso. Não queria que ele
morresse jamais”, desabafa Priscila.
Foi mesmo o rio que
ajudou Priscila a começar a cantar. Sem dinheiro para pagar aulas de canto,
usava suas águas para afinar as cordas vocais, mexendo as mãos, percebendo seu
barulho. A inspiração também veio de sua mãe, que sempre cantou muito em casa,
e de seu tio Magela, o grande ídolo. Ele foi um dos maiores representantes da
música barranqueira, que canta o cotidiano e sutilezas das comunidades
ribeirinhas, estilo que Priscila também adotou, já que é “tudo o que sei, o que
aprendi desde o começo”. O tio morreu quando ela tinha apenas seis anos, mas a
conexão entre os dois permaneceu. Ele está vivo nas canções da mineira e em
suas histórias, que sempre o citam. E também na luta pela música barranqueira,
que resiste forte para continuar ecoando.
As composições e a voz de
Priscila podem ser ouvidas no CD A
Barranqueira, lançado em 2012, com 13 músicas de autoria própria, de Magela
e de compositores como Pepeh Paraguassu e Paulo Vieira.
Priscila Magella e Mestre Zé Limão (Foto: Leonil Junior) |
No Folclorata, ela faz a
vivência com o Mestre Zé Limão, da Folia de Santos Reis de Doutor Campolina, do povoado
Lagoa Trindade. “Minha infância foi na terra vermelha, como aqui. Vir
aqui e conhecer a família de Seu Zé abriu um leque muito grande sobre cultura
popular. Sem dúvidas, é uma das maiores experiências da minha vida. Estamos trocando,
vivendo e convivendo”, declara. Sem dúvida ouviremos falar muito de Priscila
Magella e de sua música barranqueira cantando o Velho Chico.
Ouça a música Lamento ao Velho Chico aqui.
Sou Piraporense de coração e alma. Conheci a Priscila Magela ainda criança, engatinhando e já tentando mostrar algum solfejo musical, pois, a convivência com o seu tio Geraldo Magela (cantor e compositor) e sua mãe Leninha (ótima cantora), a levava a tal iniciação. A menina cresceu e de repente se tornou uma cantora e compositora da melhor qualidade. A MPB circula no seu sangue, tanto quanto a MB (música barranqueira), pois, em ambas o seu conhecimento é predominante. Priscila, minha amiga, siga em frente porque você tem ainda uma vida inteira para mostrar a sua potencialidade para o público mineiro, brasileiro e se Deus quiser, também o internacional.
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